quinta-feira, 27 de agosto de 2009

CASSANDRA

Depois de você, choro e vela
Aguardando passos desencontrados
Aguardando batidas na porta de madrugada
Aguardando talvez quem viesse me trazer o sonho
O pó, a vítima, o sonho

Depois de você, um filme
Ver finais felizes
Sem mágoas, sem cicatrizes
E não conseguir dormir
Aguardando a realidade manchar as cores

Depois de você não havia mais ninguém
Depois do seu sonho não sobrou mais espaço
Depois do silêncio veio a verdade
E as bocas não mais desejariam ser abertas

Apenas ouça!

Muita lama para abençoar teus pés
Muito pó para prolongar tua ilusão
Muita boca para curar o amor
Muita morfina para esquecer a dor

Apenas corra!

Quando chegar um verão solitário
Quando não fizer mais sentido ficar
Para ouvir histórias iguais

Quando for tarde demais

Eu quero cuspir não me dê água para engolir esse gosto amargo que ficou de ontem. E não me acorde antes de sonhar comigo longe, num paraíso.
Já te contei da vez que eu corri sem saber para onde ir?

Apenas ouça!


Neto

domingo, 23 de agosto de 2009

Essência

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A cor do seu quarto, o jeito da sua roupa,
como deve ser seu sapato, o gosto da sua boca.
Onde quer acordar segunda feira, onde mora,
o que quer fazer a vida inteira, se fica ou vai embora.
Jantar, almoço, café da manhã ou café da tarde,
se não gosta quando machuca, se prefere quando arde.
A cor do seu cabelo, o jeito das suas mãos,
os caminhos que são escolhidos, o sim e o não.
Um beijo no rosto, um beijo francês,
me visto bem pra mim ou me visto bem pra vocês.
O jeito com que olha, como você deseja,
como eu realmente sou, como querem que eu seja.
O cheiro do seu corpo, a cor da sua alma,
agir como um louco, manter sempre a calma.
A sua pele contra outra, a sua pele, só ela.
Um quarto só com uma porta, um quarto com janela.
Uma mulher pra toda vida, uma mulher pra toda hora,
viver entre feridas ou viver com quem adora.
Uma aventura a cada mês, uma aventura a cada dia,
uma aventura toda. Uma aventura, e quem diria...


É o que você é e o que não é.


Daniel

Ausência I

Noite
e não é qualquer uma
daquelas frias, em que você não pode nem colocar a ponta do nariz pra fora da janela
Som alto
conversas abafadas, que é pra gente não perceber
entre um sorriso e um choro
a falta que o outro faz

E percebi a ausência logo na voz da Angela Ro Ro:

"Amor, meu grande amor
não chegue na hora marcada"

Ou não chegue nunca!


Neto

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Tic Tac...

"Eu fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo:
nem ele me persegue, nem eu fujo dele.
Um dia a gente se encontra..."
Mario Lago

O problema não é a falta de tempo. O problema é o não costume com a falta de tempo.
É fato que nunca teremos tempo pra dar todos os abraços que queremos, que nunca teremos tempo o suficiente pra ficar naquela de "ah, não... desliga primeiro você", que os "eu te amo" ditos nunca serão suficientes, nunca teremos tempo pra presenciar todos os fins de tarde lindos vistos de qualquer lugar paradisíaco e que também não teremos tempo de aproveitar o quanto queriamos.
A idéia não é ficar pensando que deixamos de fazer as coisas por falta de tempo, ela sempre esteve ai e sempre estará.
A idéia é saber aproveitar cada segundo, saber que cada beijo, abraço, aperto de mão, aceno de longe, mesmo que dure dois segundos foi sincero.
Saber que, em cada segundo dessa vida que corre de modo louco, você esteja presente cem por cento.

Daniel

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Aquele beijo...

"Não é o mundo como ele é, senão o mundo como a gente vê"

Não era isso que te falavam sonhadores, poetas e afins?
E hoje seu mundo assumiu uma responsabilidade tão grande, incapaz de inexistir.
Você entendeu que "mudar o mundo não é apenas mudar o mundo de lugar"?

Mas aquela frase, no começo daquilo que você depois veio a chamar de amor, daquilo que você nunca mais sentiu, daquilo que te deixou saudade; aquela frase nunca mais vai ser esquecida por quem a ouviu em algum espaço de tempo desse mundo careta e carente.
Ele bem que tinha razão. Ele, quando tocou meu rosto e se aproximou. Ele, que ainda desejo que apareça de repente como quem não quer nada. Ele, num último gesto terno, como quem prevê a solidão. Ele apenas disse como quem já se despede:

"E os outros beijos da nossa vida deixarão a desejar"


Neto

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

No passo do teu caminhar

É o jeito como você se mexe,
como sorri quando me ve por perto
ou como desce as escadas.
Cada passo seu é parte de um desfile
e mesmo que seja só eu o espectador,
assisto com a maior atenção do mundo
e sem mexer nenhum dedo
bato as palmas mais fortes que você já viu.

;)

Daniel

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Depois dos sonhos póstumos...

"É num interminável segundo que a gente briga"

Lembro das brigas, das caras fechadas, do "nunca mais vou te ver" e "não me procure mais". Lembro das promessas, do "vou mudar", das risadas, dos dias que não queríamos que terminassem.
Tudo tão intenso. Tão nosso, por maiores que fossem os defeitos.
Hoje abro uma caixa antiga com o título "para onde?", e nela palavras não escritas, cartas não entregues, músicas disfarçadas completam o tom dessa saudade. Para onde?

A idéia de voltar a escrever em um blog, antes que eu me esqueça, é para que as palavras não se percam nos centenas de milhares de quilômetros entre Brasil e Cuba.

A volta é sempre um pouco dolorosa, porque ainda restam sinais daquele amor antigo.

"Para onde vão seus sonhos quando você se sente só?"

E se...

E se a gente acordasse desse sono de uma vez?
E se a gente não sonhasse mais?
Eu viraria para um lado e você puxaria o lençol do outro
e um abismo se abriria entre nós

E se a gente dividisse essa cama?
E se essas paredes não existissem mais?
Eu compraria uns discos antigos e você aprenderia a sofrer
e nada faria mais sentido do que eu e você

Por brigas e brigas que ainda iríamos ter
nós anteciparíamos o perigo que é viver
mas não teria graça
A gente já aprendeu a gostar de brigar
só pra depois se entender
E a gente vai aprendendo mais sobre a gente
Eu gosto do que vejo em você

E se a gente parasse de dar sentido a tudo?
E se o nosso sorriso fosse um momento único?
E se o tempo parasse só pra nós?
Eu aprenderia que meu espaço foi feito só para você
e você teria menos motivos para me esquecer
e nada faria mais sentido do que eu e você

E se a gente mudasse o mundo de uma vez?
(Tal o filme que a gente fez)


Neto

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O primeiro, novamente...depois de sonhos póstumos

o sol de meio dia me incomodava um pouco
e com um sorriso meio torto eu ia andando pelo rio
quando parei pra prestar atenção já era noite
percebi não por causa do escuro, mas pelo frio
quando notei onde estava, me senti em casa
a lapa sempre é um lugar acolhedor
é lugar pra cobra achar asa
sempre pouco dinheiro, mas muita disposição
quando ouvi um sambinha tocando na rua
fui seguindo o som do pandeiro e as palmas da multidão
um cabloco inspirado dançava e rodava
seguido por uma bela morena segurando sua mão
essas coisas sempre prendem meus olhos
pra mim é a mais pura arte
e mesmo não fazendo parte, me sinto bem ali
desci já meio alterado e ouvi o som de um xaxado
logo seguido de um forró, ali no pé da escadaria
se fosse possivel eu dançava forró todo santo dia
chamei uma morena, nem perguntei como chamava
deixei os chinelos de lado e quando vi já dançava
e quando os pés deram o aviso, dei tchau e fui embora
já tinha passado da minha hora
quando fui pro caminho de casa
cazuza me perguntou "mais uma dose?"
eu me conhecia, eu sabia de mim
sem pensar duas vezes respondi:
"é claro que eu to a fim."

Por Daniel, o sambista de angra